Neurologista de Belo Horizonte (MG) explica que público mais atingido pela doença é composto por mulheres de 20 a 40 anos
A esclerose múltipla é a doença neurológica que mais causa problemas em adultos jovens em todo o mundo. Especialmente mulheres, de 20 a 40 anos. Pensando nisso, desde 2014, o mês de agosto ganhou a cor laranja, em campanha da Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME), voltada à conscientização sobre o tema. A ideia é levar cada vez mais informação à população e proporcionar maior qualidade de vida a quem vive com a patologia.
A neurologista Jéssica Vaz, de Belo Horizonte (MG) explica que a doença não apresenta um aumento significativo de casos, porém, hoje em dia, existem mais diagnósticos, por meio do exame de imagem (ressonância magnética) – realizado após suspeita detectada através de exame clínico. O que facilita que o tratamento seja iniciado o quanto antes.
“É uma doença que não tem suas causas totalmente esclarecidas até hoje. Sabemos que há fatores genéticos e fatores ambientais. Hoje conhecemos como os principais fatores ambientais que favorecem o surgimento da doença a deficiência de vitamina D, infecção pelo vírus da mononucleose, tabagismo e obesidade”, comenta.
A especialista pontua que a esclerose pode surgir causando dano neurológico em qualquer área do sistema nervoso, desde o cérebro até a coluna. “O que é característico é que ela normalmente se manifesta por meio de surtos, cada um com um sintoma particular”, afirma. E complementa:
“Os neurônios são as células principais do cérebro, e conduzem sinais através de impulsos elétricos. Existe uma substância que reveste os neurônios, chamada mielina. Fazendo uma comparação, neurônios seriam como fios elétricos e a mielina seria uma capa que reveste esse fio. Quando essa capa é destruída, ocorre mau funcionamento e destruição do neurônio. Esse processo inflamatório ocorre tipicamente em forma de surtos, ou seja, são episódios em que ocorre o dano neurológico”, detalha.
De acordo com a dra. Jéssica Vaz, não existe até hoje uma forma comprovada de prevenir a doença. Mas algumas medidas podem ser tomadas para se proteger. “Sabemos que hábitos de vida saudáveis, alimentação equilibrada, atividade física regular, evitar a obesidade e não fumar, são atitudes que colaboram para diminuir o risco de desenvolver a doença”, alerta.
A médica enfatiza ainda que não existe um sintoma específico para a doença, mas os sinais de alerta mais comuns são fraqueza, dormências, fadiga, cansaço, além do acometimento da visão.
“A esclerose múltipla pode acometer todo o sistema nervoso central, o que quer dizer que não existe um sintoma específico para ela. Sempre que o paciente identificar alterações neurológicas, como, por exemplo, alterações visuais, na força, no controle motor, nos movimentos, no equilíbrio, entre qualquer outro sintoma tipicamente neurológico, deve procurar imediatamente um médico”, salienta.
A neurologista pontua que a esclerose múltipla pode se desenvolver de duas formas. E a mais grave delas, ao contrário do que muitos imaginam, segundo ele, não está nos surtos.
“A forma mais comum é chamada de remitente recorrente ou surto remissão. Ela ocorre quando os sintomas vêm, como o nome diz, em surtos, intercalados com períodos de remissão, onde cessa a inflamação e os sintomas param de progredir. Cada surto pode acometer uma área diferente do sistema nervoso, com sintomas diferentes. Mas, a forma menos comum é a progressiva, em que continuamente ocorre inflamação e as lesões estão sempre se sucedendo, aparecendo continuamente novas lesões. Essa forma, pode ser mais grave e ter um desfecho muito mais complicado”, explica.
Não existe cura para a esclerose múltipla, porém, hoje, existem formas de tratamento para a doença, como detalha a especialista. “Dividimos o tratamento em duas etapas. A primeira, chamada de tratamento do surto, deve ser realizada sempre que um novo surto ocorrer. Ela é realizada com antiinflamatórios potentes, chamados corticóides. Essas medicações são utilizadas em doses altas por uma média de cinco dias, com o objetivo de parar a inflamação e minimizar o dano do surto”, diz.
E complementa: “A segunda etapa é o tratamento modificador de doença, onde utilizamos medicações chamadas imunomoduladores. Eles agem controlando o sistema autoimune, minimizando o risco de novos surtos e da agressão ao sistema nervoso. Existem diversas opções, que são determinadas de acordo com o caso de cada paciente. Esse tratamento é chamado de modificador de doença, pois, desde que começou a ser utilizado, mudou completamente a sobrevida dos pacientes, trazendo muito mais qualidade de vida”, conclui a dra. Jéssica, que pretende criar um podcast para abordar o tema junto com o dr. Davi, também especialista em Esclerose Múltipla.